quarta-feira, 11 de março de 2009

História - Reco-Head Records


Reco-Head



Na metade de 1998, o músico Arthur Joly aproveitou o final de sua banda, Vintetrês, para se dedicar a um disco solo. Comprou de seu amigo P.A. (ex-baterista da banda RPM), um pacote de horas no hoje lendário estúdio Caverna, que o experiente músico mantinha em sua casa na Vila Mariana. P.A., aliás, fazia a alegria dos companheiros músicos com seus irresistíveis pacotes: preços irrecusáveis por infinitas horas em um estúdio onde, embora muitas vezes reinasse o caos, era possível contar com um som potente e uma atmosfera psicodélica sem igual.

Assim, durante suas férias de julho, Joly gravou TchucmangionisJamjoly, no qual tocou todos os instrumentos e contou com participações especiais. O álbum foi registrado inteiramente em fitas cassete operadas em um porta estúdio Tascam de 4 canais.

Em um aperitivo do que seria poucos anos depois a Reco-Head, Arthur confeccionou cerca de 50 cópias de Jamjoly no mais autêntico método artesanal: cada exemplar levava encartado fotos PB ampliadas no laboratório de fotografia do próprio Joly, e os CD-Rs haviam sido queimados um a um em um estúdio alugado.

Deste disco surgiria, no final do mesmo ano a banda TchucbandioniS, formada inicialmente para levar ao palco o repertório deste CD. Repertório, aliás, no qual se notava uma variedade de elementos que cobria de funk dos anos 60 e 70 às experimentações analógicas que gente como o americano Beck vinha fazendo à época.


* foto Tchucmangionis + link para download

1999 foi um ano bem importante na fase embrionária da Reco-Head. Arthur comprou seu próprio Tascam de gravação em fita cassete e 4 canais – vale lembrar que o usado em Tchucmangionis era emprestado. Feliz com a nova aquisição, ele desembestou a gravar e em pouco tempo tinha seu segundo trabalho solo analógico pronto. Batizado Tripamuts, o álbum era uma homenagem aberta à sonaridade do funk cru setentista, embora as batidas tivessem sido concebidas com a ajuda de um sampler (bastante primitivo, aliás). Tripamuts é uma verdadeira raridade, já que somente 30 cópias da matriz original foram produzidas, mais uma vez manualmente.

 






* foto Tripamuts + link para download

Ao mesmo tempo, o TchucbandioniS, grupo que Joly criara para tocar as canções de seu primeiro trabalho, ganhava certa reputação em São Paulo por seus concertos explosivos. Não importava se as apresentações ocorriam em porões transformados em ateliês, bares ou festas universitárias: quase sempre o Tchuc empolgava ao vivo. Faziam parte da banda naquele ano, além do próprio Arthur (voz, guitarra, samplers, didgeridoo), a folclórica e extraordinária dupla P.A. (o mesmo que co-produzira a bolacha, oficializado nas vozes e no teclado) e Nobuga (percussão, vozes, trompete), além do talentosíssimo guitarrista e baixista André Faria e o baterista Daniel Setti, futuro parceiro de Joly na fundação da Reco-Head.

Todos eles, ou a “Formação Clássica” do TchucbandioniS, haviam participado do álbum que deu origem à banda, Tchucmangionis, lado a lado com outros colaboradores como Fepa Soares e Vinicius “Cabelo”. O repertório da banda passou a ser composto não apenas por parte do set list do disco, mas também por músicas que iam sendo compostas por todos nos ensaios.

Ao vivo, o quinteto ainda contava com o reforço das estripulias audiovisuais de Gustavo Abreu, que à época era o videomaker dos espetáculos do mítico diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa. Futuro integrante do Labo e atualmente conhecido como Guab, um dos mais prestigiados DJs brasileiros, Abreu realizava experimentos como captar ágeis imagens da banda com uma câmera presa a um capacete e exibir simultaneamente o resultado em outra sala.

Passada metade de 1999, era hora de registrar em CD este novo material. Desta forma, o TchucbandioniS gravou seu primeiro single no estúdio Quorum e em seguida mixou e masterizou na produtora Dr.DD. 500 cópias foram prensadas com a ajuda financeira da produtora de eventos Octo. O compacto continha os petardos funkeados “Valvulado” – cujo videoclipe, dirigido por Arthur, foi indicado para o VMB de 2000 entre os melhores videoclipes demo do ano – e “Caveira”.

 

* foto Thucbandionis + link para download

 

Em 2001, Arthur Joly assumiu a produção musical como sua profissão, e para isso adquiriu seu primeiro computador - um Mac G3 usado - e um programa de áudio, o Logic 4. Enquanto emplacava seus primeiros trabalhos como autor de trilhas televisivas e publicitárias, aproveitou para se aventurar nas tecnologias recém-adquiridas e embarcou em sua primeira experiência autoral mais eletrônica.

O fruto desta fase é Mugomango – Elétrico Brasil 70, álbum inteiramente gravado por meio do computador, apoiado em samples de notas de moog sequenciados pelo programa Fruity Loops. Tratava-se do marco inaugural da série de tributos de Joly a uma de suas obessões, o célebre sintetizador Moog, e que flertava com drum n’bass e big beat, entre outras vertentes eletrônicas. Não espalhe por aí, mas Elétrico Brasil 70 incluía também uma bizarra e sensacional versão de “Manguetown”, de Chico Science & Nação Zumbi.

Arthur produziu e distribuiu aproximadamente 70 cópias deste disco, todas queimadas em seu computador, com capas impressas em sua impressora e Cds pintados com giz de cera. Apesar do aspecto caseiro, a bolacha era histórica: foi a primeira a receber o logotipo da gravadora Reco-Head.




* foto Mugo 70 + link para download

Neste mesmo ano, a banda Labo, formada pelo músico Marcelo Ozorio, tocava semanalmente no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Após uma temporada na casa noturna Blemblem, gravações ao vivo compuseram um outro disco, o LABO.
Esta banda gerava algum lucro, e este lucro foi destinado a produzir uma leva de Cds, aproximadamente 200 cds. Com capa impressa em um gráfica digital, o disco do Labo foi o primeiro a ser entregue para a mídia e vendido em shows.



* foto Labo + link para download

Ainda em no ano de 2001, a banda Tchucbandionis, que estava muito ativa, resolve gravar seu primeiro disco inteiro.
Inspirado no disco On The Corner de Miles Davis, a banda grava em um dia uma sessão de 7 horas de músicas de improviso. Depois de dois meses de edições e overdubs, nasce o disco TchucbandioniS On The Cave.
Este disco seguiu o mesmo caminho do disco Labo e teve aproximadamente 250 cópias espalhadas pelo mundo.



* foto on the cave + link para download


No final do ano de 2001, a Reco-Head já podia ser considerada um selo. Com 5 discos e um logotipo, Arthur Joly decide não mais procurar gravadoras para fazer as coisas acontecerem, e sim fazer as coisas acontecerem por si próprio. O desenhista Mauro Golin é convidado para desenhar o logotipo da gravadora. E consegue transformar a idéia em um simpático e forte ícone. E assim, mais 3 discos começam a ser produzidos.





* foto logotipo


O ano de 2002 foi o ano mais importante para a gravadora Reco-Head Records. Mugomango, TchucbandioniS e Labo estavam com discos rescém produzidos e com dinheiro suficiente para prensar as tão sonhadas mil cópias. E assim aconteceu. Três mil discos de três títulos gravados e produzidos com esmero, capas lindamenrte desenhadas pelo estúdio Bijari, comparsas nas noites de experimentos com o Labo.
Nesta mesma época, surge em São Paulo a Tratore, a primeira distribuidora de discos independentes do Brasil. A parceria foi firmada. Assim, a gravadora passa ater deus discos distribuídos em lojas como a Fnac e a lendária Pop’s.
Repletos de orgulho e insentivados pela nova tendência mundial, as pessoas envolvidas nestes 3 projetos começam e desfrutar de uma nova onda produtiva.
E mandamos para a gráfica nosso primeiro catálogo impresso.

*foto catálogo – frente e verso


Mugomango – Elétrico Brasil 2002. O segundo disco do artista de música eletrônica Mugomango. O Pseudônimo de Arthur Joly para suas pirações eletrônicas. Este disco possui timbres dos sintetizadores korg electribe e de um kawai k5000s. Participações de músicos e principalmente da cantora Joana Caccato na faixa Je Suis un Lac e tu me Sec.
Este disco foi muito importante na carreira do produtor Arthur Joly. A capa do disco, feita pelo estúdio Bijari, chamou a atenção da cantora Elza Soares. Apesar da modelo desenhada não ser Elza, a simpatia da artista também foi conquistada devido a este fato. Mais tarde surgiria a maior parceria da história do selo. Arthur Joly + Elza Soares.


* foto mugomango + link para download


Tchucbandionis – O Novo Transmissor.
O disco completo da banda, todas as músicas do repertório.
A gravação do disco foi um pouco tumultuada pois no meio do processo P.A. foi convidado para a volta de sua banda mais famosa, o RPM. O disco foi lançado com a banda já desmenbrada de dois de seus principais integrantes. Apesar disto, a banda continua sendo lembrada por seus shows memoráveis e performances televisivas impagáveis.



* foto O novo Transmissor + link para download


Labo - Grupo de Experiências Multimídia
Depois de temporadas memoráveis no BlemBlem, o grupo formado por músicos e artistas lança seu segundo disco. Este disco conta com uma faixa multimídia produzida pelo Estudio Bijari.
O disco é fruto de uma gravação ao vivo no Teatro Mars pós produzida pelo produtor Arthur Joly.


Nessas alturas três pessoas faziam parte de todos os projetos do selo, participavam ativamente e faziam questão de levantar essa bandeira. Arthur Joly, Marcelo Ozorio e Daniel Setti.

* foto dos 3 caras da Reco (revista simples)


A produção de vídeos também foi marcante neste período. Até este ponto, 6 videoclipes já tinham sido produzidos, um deles (Valvulado) concorreu como melhor democlipe no VMB de 2001.















Link do vimeo do Preta Menina
Link do vimeo do Labo Sesc


Em julho de 2003 o teceiro disco do Mugomango estava sendo produzido, o Elétrico Brasil 3003. Este disco foi composto quase que inteiramente no softwear Reason e teve como fundamental participação a percussionista Simone Soul. Este disco nunca foi prensado, e nunca teve um lancamento oficial.




* foto do mugo 3003 + link para download


Em julho de 2003 o jornalista Alex Antunes idealizou o festival Contradição. Festival este que reunia artistas da velha guarda com novos artistas. Nesta mesma época a jornalista Érica Brandão convidou Arthur Joly para transformar as músicas do disco da Elza Soares em versões eletrônicas. Arthur fez versões eletrônicas do disco Do Coccix até o Pescoço, que estava muito bem falado na época. O convite de Erica era para a apresentação em um trio elétrico da MTV na parada da Paz em São Paulo. Logo Elza e Arthur se identificaram musicalmete e fizeram mais duas pequenas apresentações em eventos. Alex Antunes, sabendo disso, convidou a dupla para fechar um dos dias de seu ousado festival.
A apresentação foi no teatro do SESC Pompéia, e foi um espetáculo inesquecível.
O show acabou com centenas de pessoas no palco dançando com a cantora.
Empolgada com o resultado, Elza convidou o produtor Arthur Joly para produzir uma de suas músicas.
Logo, percebendo que Elza estava sem contrato, Arthur a convida para gravar um disco inteiro pela sua pequena gravadora, a Reco-Head. Ela aceita.
Assim, surge um dos mais importantes discos independentes do ano de 2003, Elza Soares – Vivo Feliz.



* foto Vivo Feliz + link para download


Um pouco antes de toda a estória com a cantora do milênio, outros 3 discos foram incorporados ao catálogo. Nestes casos, bandas amigas ,que um dia fizeram parte do ciclo de amizades dos 3 membros ativistas da Reco-Head, também finalizaram suas produções. Nestas alturas a parceria da Reco-Head com a distribuidora Tratore permitia que as bandas licenciassem suas obras sem terem que prensar seus discos por conta própria. A Tratore prensava e distribuia. As bandas cediam seus fonogramas e recebiam pelas cópias vendidas. Nada muito lucrativo, mas um presente para bandas que estavam a procura de uma divulgação profissional.
Nesta leva vieram 3 importantes trabalhos : Abimonistas – Só o Abimonismo Salva, Paumandado e Cérebro Eletrônico – Onda Híbrida Ressonante.
Desta leva surgiram personagens importantes na cena da música paulistana entre eles Fabio Góes, André Caccia Bava, Alexandre Grooves e Tatá Aeroplano.




• foto os abimonistas + link para download
• foto Paumandado + link para download
• foto Cérebro + link para download


E logo a gravadora teve o seu segundo catálogo impresso. Agora com muitos outros discos. Nesta mesma época surge o site da Reco-Head, o www.recohead.com.br desenhado e planejado por Mauro Golin, Arthur Joly e Marcelo Ozorio.

• foto do catálogo – frente e verso
• foto do site – imagem do browser


Neste ano a Reco-Head ganhou o seu primeiro prêmio no VMB da Mtv. O videoclipe produzido e dirigido pelo estúdio Bijari ganhou o prêmio de melhor direção de arte.







O Ano de 2004 foi um ano diferente para a gravadora. O que fazer depois de um lançamento do porte de Elza Soares ? Quem lançar ? Como lidar com a crise da indústria fonográfica ? Nessas alturas a gravadora já funcionava no vermelho, os discos não vendiam e não estava nos planos de nenhum dos 3 membros tornarem-se empresários da música. Arthur Joly estava fazendo uma pequena turnê com Elza, Daniel Setti tocava no Labo e em outras bandas, e Marcelo Ozorio fazia parte de uma banda nova, chamada Jumbo Elektro.
Formada principalmente por membros da banda Cérebro Eletrônico, o Jumbo Elektro estava fazendo sucesso nas noites da casa noturna Torre do Dr. Zero. O produtor Arthur Joly foi no terceiro show desta temporada. Impressionado com a atitude da platéia logo depois do show convidou a banda para produzir e lançar um disco pela Reco-Head. Convite aceito. Menos de um ano depois, a Reco-Head tem seu novo lançamento, o Jumbo Elektro.
Uma autêntica banda independente, que saiu do zero e tornou-se rapidamente um dos maiores sucessos indies do país. Em pouco tempo o Jumbo Elektro conquistou espaços que muitos artistas de gravadoras major não conseguem atingir. Vale lembrar que o baterista que gravou o disco e participou de todos os shows até 2005 foi Daniel Setti. Assim, do Jumbo Elektro, faziam parte os 3 ativistas da gravadora. O que fez do lançamento solitário deste ano uma enorme conquista, fruto de um trabalho recheado de experiências adquiridas com o disco da Elza.



• Foto do Jumbo + link para download


O Jumbo Eleckro foi indicado para o VMB de 2005 com o Clipe Freak Cat. Dois clipes foram lançados simutaneamente, o outro foi o de Fresh Fruit for Rockin Vegetables, dirigido pelo diretor Luis Carone.








Em 2005 a única banda a ser lançada pela gravadora foi o Seychelles. Disco Mixado por Arthur Joly e produzido por Fabio Pinc. O Seychelles trouxe para a Reco-Head músicos extremamente talentosos e com diversas bandas ativas na cena independente.
Este disco foi o útimo disco lançado com a prensagem da distribuidora Tratore.

• foto do seychelles + link para download


Depois de dois anos com o pé no breque, o ano de 2006 foi um dos mais produtivos da história do selo. Arthur Joly e Fabio Góes produziam seus discos solos. A banda Druques foi apresentada por Tatá Aeroplano. Assim, em dezembro de 2006 mais 3 discos são lançados em uma enorme festa de lançamento no Blem Blem.




* foto do Jamjolie + link para download
* foto do goes + link para download
* foto do druques + link para download


Nesta mesma época surge o primeiro lançamento da gravadora em Vinil, o disco Arthur Joly Apresenta – Jamjolie Orquestra teve 300 cópias prensadas na extinta fábrica carioca Polysom.



• foto do vinil

Ainda em 2006 as bandas Jumbo Elektro e Cérebro Eletrônico foram convidadas para tocar em um festival em Barcelona. Assim, além da veterana Elza Soares, duas bandas do selo tornaram-se internacionais.


Em 2007 a gravadora teve seu terceiro catálogo impresso desenhado por Mauro Golin.

• foto do catálogo frente e verso.

Neste ano mais dois videoclipes foram produzidos, o de Arthur Joly e um dos Druques, dirigido por Marcelo Mesquita.








Ainda em 2007 mais três discos foram incorporados ao catálogo da gravadora. O disco Em Busca da Verdade da banda instrumental Mamma Cadela, o disco do Trio Instrumental Chimpanzé Clube Trio e o disco Ancestral de Gustavo Garde.



• foto Mamma Cadela + link para download
• foto Ancestral + link para download
• foto Chimpa + link para download

Ainda em 2007, Arthur Joly produz e lança o disco Mugomango - Cinema do Futuro. Produzido em 4 dias, um disco bastante experimental.




foto e link - mugo cine

No final de 2007 acontece um dos maiores feitos da gravadora. Convidados pela Mostra do Audio Visual Paulista, a gravadora pôde organizar seu primeiro festival.
Três dias de shows com todo o elenco da gravadora tocando na Cinemateca, um lugar incrível, um palco lindo. Tudo foi registrado pelos diretores Fepa Soares e Christian Grinstein. Abaixo, um promo do material captado.





Em 2008 um único lançamento fez parte da história da gravadora. Um lançamento ousado, seguindo um plano da banda Radiohead. O lançamento digital em troca de doação pós download. O disco em questão era o segundo da série Arthur Joly apresenta.


• foto jolyman + link para download

Ainda em 2008 o diretor Guilherme Coube dirigiu com uma câmera super-8 o videoclipe de Brazilian Jungle Style do álbum Jolyman.





E o Selo Reco-Head continua com sua sessão de Lo-Fi em andamento. Em 2009, dois artistas fizeram parte desta modalidade rápida de fazer arte. Abaixo, dois exemplos :